Breve explicação sobre fermentação primária, secundária, maturação, etc

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Guenther

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Pessoal,

Muita gente tem dúvida sobre o que é exatamente fermentação primária, secundária (ou o também conhecido "descanso de diacetil"), maturação, etc, então vou aproveitar uma resposta que dei num outro tópico (http://www.homebrewtalk.com.br/f163...ria-sim-ou-nao-402981/index5.html#post5079097) pra explicar, por cima e de modo geral, o que é cada um dos processos.


Guenther, graças a suas dicas vou optar por NÃO TROCAR de balde fermentador para maturar.

Finalizada a fermentação de 10 dias a 18 graus, aumento no 11º dia para 22 graus e deixo até o 14º dia nos mesmos 22 graus para melhorar essa fermentação secundária. Aí no 15º dia baixo direto pra 2 graus? que ai poderia pra maturar por mais 16 dias?
Ao terminar de fermentar (e entenda-se como "terminar de fermentar" o fato de parar de atenuar, ou seja, quando todos os açúcares fermentáveis foram consumidos e consequentemente a densidade para de baixar), pode-se então começar a elevar a temperatura até os 25 ºC para a fermentação secundária. Isso acelera bastante o processo.

Quando eu não tinha como aquecer o fermentador, eu deixava na temperatura máxima de fermentação no mínimo 1 semana, ou seja, se eu conseguisse fermentar no máximo a 18, deixava assim por no MÍNIMO mais 1 semana, mas em muitos casos, muitas semanas, pra só depois baixar a temperatura a fim de clarificar e então envasar.

Hoje, como eu consigo aumentar a temperatura com precisão, isso me permite encurtar esse tempo. Então o que eu faço é ir aumentando 1 grau por dia, até chegar nos 24, 25. Quando chego nessas temperaturas, já transcorrem 3 ou 4 dias, ou seja, nem preciso deixar mais tempo aos 25 (caso eu não tenha sentido excesso de diacetil ou acetaldeído na cerveja).

Feito isso, pode-se tranquilamente fazer um "cold-crash", ou seja, baixar a temperatura de tudo ao mínimo praticável (que não tenha chance de congelar). Quando sei que não vou usar meu "freezer de fermentação" para outra cerveja em seguida, faço isso nele mesmo, e então baixo a 0 grau. Quanto mais gelado, mais rápido clarifica a cerveja. Quando já vou ter que fermentar outra logo em seguida, levo o fermentador pra minha câmara fria, sendo que ela se mantem entre 3 e 6 graus, o que também clarifica bem.

Agora vem a grande pergunta... onde todos normalmente querem uma resposta "matemática": quantos DIAS deixar "maturando" antes de envasar? Ou envasar assim que clarificar e então quantos DIAS deixar "maturando" antes de começar a tomar?

Não há problema em dizer "deixe pelo menos X dias fazendo isso", ou aquilo, mas é preciso entender que fermentação e maturação são processos biológicos e químicos também, então eles dependem de VÁRIOS fatores. Ou seja, quando alguém diz X dias pra alguma coisa, isso quer dizer que, levando em conta a maioria das fermentações e maturações, aqueles X dias são suficientes para que a cerveja termine uma determinada etapa ou então que ela "amadureça" a ponto de ficar legal para beber. Mas, lembrando sempre, nada disso é uma regra, por ESSE motivo que eu sempre tento ensinar que o cervejeiro deve ESQUECER a quantidade de dias, e usar de técnicas (quando possível, caso da fermentação) para detectar o fim de uma etapa, ou então, usar de sua própria percepção e experiência para detectar o fim de outras etapas (maturação mínima antes de beber).

Então vamos lá...

Fermentação Primária - quanto tempo? - A Fermentação Primária nada mais é do que o consumo de todos os açúcares fermentáveis pelas leveduras, então, é barbada, pois podemos utilizar técnicas exatas pra saber quando termina. Basta acompanhar o air-lock, medir a densidade, e então quando a mesma parar de baixar, ponto, podemos entender que a fermentação primária acabou (claro que existem exceções onde ocorre baixa atenuação por falta de fermento, oxigenação, etc).

EDIT: depois de 4 anos, lendo novamente a explicação, vejo que alguns ainda não entendem claramente, e realmente acho que podia ter explicado melhor, então vamos a uma explicação 2.0:

Fermentação Primária
- Começa: quando inoculamos o fermento
- Termina: quando o fermento termina de consumir todos os açúcares que consegue (fermentáveis), o que pode se observar por parar de gerar bolhas no air-lock, mas PRINCIPALMENTE, por parar de baixar a densidade do líquido, ou seja, a técnica correta para determinar o fim da Fermentação Primária é, depois de parar de borbulhar, medir a densidade da cerveja com densímetro pelo menos 2 dias seguidos, e ver se ela ficou igual. Se continuar igual, quer dizer que o fermento não está comendo mais nada. Já se você mediu a densidade um dia, anotou, e no outro dia quando mediu novamente a densidade estava mais baixa, quer dizer que a fermentação ainda não acabou pois o fermento continua comendo.



Fermentação Secundária - quanto tempo? - Aqui o cervejeiro deve começar a treinar seu lado artesão da coisa, ou seja, estimular sua própria análise sensorial. Por quê? Porque a fermentação secundária serve para que o fermento REABSORVA alguns dos subprodutos indesejáveis que ele mesmo gerou durante a fermentação, como diacetil e acetaldeído. Então, quando acaba a fermentação secundária? Acaba quando a gente pega uma amostra da cerveja e não sente mais esses off-flavors. "Tá Guenther, mas por favor, me dá um número X de dias, pois ainda não consigo sentir/perceber esses off-flavors". Assumindo uma temperatura de fermentação secundária por volta dos 16 graus para lagers, e pelo menos uns 22 graus para ales, pela minha experiência uns 3 dias (recomendados em várias literaturas) são realmente suficientes. Como a temperatura atua diretamente na velocidade de tudo que o fermento faz, esse período pode ser maior caso essas temperaturas sejam inferiores. NO ENTANTO, esses 3 dias são NORMALMENTE suficientes quando a fermentação ocorreu bem, saudável, toda bonitinha, com controle de temperatura, quantidade de fermento suficiente, etc. Se houve muita variação de temperatura, falta de fermento, ou seja, estresse de fermentação, a quantidade de subprodutos gerados pode ser DEZENAS de vezes maior, e consequentemente isso pode demandar uma fermentação secundária bem mais longa (a exemplo de cervejas high gravity, onde o fermento sempre sofre).

Clarificação - quanto tempo? - Primeiro é preciso entender que, assim que a cerveja parou de fermentar, o processo de clarificação, ou seja, decantação de resíduos, células, proteínas, etc, é constante. Isso vai acontecer pra sempre (assim como a maturação, cuja explicação vem depois). O que fazemos nada mais é do que um ESTÍMULO para que essa decantação ocorra mais rápido, baixando a temperatura do líquido. É interessante fazer isso antes de envasar pois dessa forma levamos muito menos células e resíduos para as garrafas e barris, fazendo com que, com o tempo, muito menos borra seja gerada no fundo. Quanto tempo? Pela minha experiência, no mínimo uma semana. Novamente, eu, Guenther, sempre tendo a fazer as coisas com MUITA calma, e tendo a estender todos os processos que podem beneficiar a minha cerveja se demorarem mais, então, como disse, eu deixo no mínimo uma semana, mas muitas vezes já embarrilei somente depois de meses com a cerveja clarificando/maturando dentro do fermentador. Se fosse engarrafar num caso desses, provavelmente teria que adicionar mais fermento. Ah, e não esperem que a cerveja fique cristalina ainda no fermentador/maturador, isso é só pra tirar o excesso. A cerveja só vai ficar cristal mesmo depois que estiver sob a pressão do CO² depois engarrafar/embarrilar, isso sim, acelera muito a decantação dos resíduos.

Maturação - quanto tempo? - Bom, notaram que eu falei "cerveja clarificando/MATURANDO dentro do fermentador"? Pois é, e é isso mesmo. Maturação, ou seja, "amadurecimento" da cerveja, é um processo interminável. No momento que ela parou de fermentar, já está maturando, amadurecendo, e depois... envelhecendo (o que pode ser ÓTIMO). A fermentação seria o nascimento dela. Mas então, quanto tempo maturar? Depende. O que normalmente queremos com a maturação é fazer com que a cerveja perca o gosto de aroma VERDE (como uma fruta ainda verde), e fique com o gosto e aroma bons para beber, e novamente, isso depende COMPLETAMENTE de como a cerveja foi fermentada, do tipo de cerveja, e por aí vai. Cervejas fermentadas corretamente ficam melhores logo depois de 2 semanas do que cervejas mal fermentadas mesmo maturando há meses, então, novamente, não há como dizer X dias exatos de maturação. Pode acontecer de alguém ter feito uma receita e em 1 mês ela estava ótima, e então eu fazer a mesma receita e ela ficar ruim mesmo depois de meses. Resumindo, o cervejeiro TEM QUE aprender e se forçar a provar e analisar sua cerveja pra DETECTAR por si mesmo se ela já está boa pra beber, ou não. Por vezes, e com a experiência que vamos adquirindo, conseguimos detectar que "bom, essa cerveja já esta muito boa pra beber, mas pra ela adquirir aquele gosto de frutas escuras e uma certa oxidação benéfica, ainda vai demorar X tempo", e por aí vai.

E aí entra uma coisa muito legal, e que todo o cervejeiro também deve aprender com o tempo, que é MANIPULAR a maturação conforme os objetivos para aquela cerveja.

Exemplos de coisas que devemos analisar ao tomar decisão de como maturar a cerveja:

Oxidação: ocorre muitas vezes com o decorrer do tempo porque sempre pode sobrar um pouco de oxigênio dentro do barril ou garrafa, mas a oxidação normalmente é RUIM para cervejas fracas (álcool) e leves (corpo), mas muitas vezes pode ser BOA em cervejas fortes, maltadas. Os efeitos de oxidação são tremendamente diminuídos com o frio, então, dependendo da cervejas que fizermos, podemos propositalmente deixá-la maturando a frio, ou muitas vezes, a quente, caso muito frequente de Imperial Stouts.

Aroma/Frescor: muitas cervejas acabam sendo muito melhores de beber quando novas pelo seu frescor, ou aromas de lúpulo. Nesses casos, é muito recomendável o cervejeiro caprichar MUITO na fermentação de forma que não precisa maturar por muito tempo a cerveja e que, assim que os aromas ruins sumirem, que já se possa bebê-la, ou seja, nesse caso, é legal fazer um cold-crash assim que fermentação secundária tiver terminado e mantê-las bem geladas. "Ah, mas aí as Weiss perdem sua turbidez". É por isso que balançamos a garrafa delas.

Açúcares residuais/cervejas high gravity: em cervejas muito fortes, muitas vezes acaba ficando um DOCE residual muito grande pelo excesso de açúcares não fermentáveis. Nesse caso, deixar a cerveja maturando a quente pode ser muito benéfico, pois mesmo que eu nunca tenha visto algum artigo ou texto provando que o fermento trabalhe ao longo do tempo consumindo esses açúcares, na prática, eu e muitos cervejeiros já vimos esse DOCE diminuir muito ao longo do tempo de uma maturação a quente, e que nesse caso, podemos chamar de Envelhecimento, ou Aging (ou seja, um processo além da maturação), pois como a cerveja não está gelada, o fermento está "acordado", e consequentemente envelhecendo. É como comparar uma carne que você deixa dentro, ou fora da geladeira. Já ouviram falar, ou viram pra vender, as carnes "maturadas"? A carnes maturadas, ao contrário da maioria (que logo em seguida é congelada), é mantida por vários dias numa temperatura fria, mas não congelante, fazendo com que algumas enzimas NATURAIS sejam liberadas pela carne e amoleçam as fibras naturalmente. No caso da cerveja, mantendo ela sempre gelada, abaixo da temperatura de atividade do fermento, ele pouco vai fazer ao longo do tempo... vai ficar ali, hibernando, até morrer, se morrer. Se mantivermos a cerveja numa temperatura mais alta, na faixa em que ele está "acordado", é de se esperar que ele faça alguma coisa ao longo do tempo, nem que seja a canibalização (autólise), que também pode ocorrer em temperaturas muito altas ou com fermento pouco saudável. Novamente, pode até ter algum artigo/material sobre isso, mas eu nunca li se realmente ele processa mais açúcares ao longo do tempo. NA PRÁTICA, novamente, a percepção é que sim pois o doce residual diminui muito.

Lagers: lagers também são sabidamente beneficiadas por uma longa maturação a frio. A própria origem alemã da palavra Lager quer dizer "armazenar", ou em alguns textos que já li, "armazenar a frio".

"Mas quanto tempo devo maturar, PORR3$@#$@$?"

O tempo necessário para que a sua cerveja fique boa para VOCÊ E PARA O OBJETIVO destinado. Se for servir num churrasquinho para um monte de amigos, muitas vezes com 1 semana já tá bom... pois a galera vai curtir um monte. A mesma cerveja, para ter chance num Concurso, pode necessitar de meses maturando. Assim como, além do objetivo, depende do gosto do cervejeiro. Já provei cervejas que achei excelentes com pouca maturação, mas o dono dela ainda achava que deveria maturar mais.

É isso que eu aprendi até hoje, mas não que seja a verdade absoluta.

(não vou revisar o texto, ou seja, desculpem os erros de digitação)

Abração,
 
Last edited:
Guenther,
Fantástico o seu texto.
Aliás todos os seus artigos explicativos são extremamente úteis, do tipo que mereceria um livro de bolso pra consultas rápidas.

Sobre fermentação e maturação, estou aprendendo um pouco a cada dia e é isso mesmo que está me fazendo entender onde acerto, onde erro, onde não devo mexer.
Já vi que experiência é fundamental e não existem fórmulas mágicas nem números precisos.

Deveria haver aqui no fórum uma seção exclusiva para todos esses artigos.

Obrigado.
 
Complementando:

Um dos off flavors mais perseguidos e amaldiçoados do mundo cervejeiro é o diacetyl. Ele é identificado por um gosto, uma sensação amanteigada na cerveja e é percebido quando presente em quantidades superiores a 0.5 ppm (0.5 mg/l).
O diacetil também é de mais fácil percepção em cervejas mais leves e com sabor menos sutil e principalmente em cervejas lager.
Assim com o aceltaldeído, o diacetyl é um off flavor que é produzido e consumido durante a fermentação. A grande diferença dos dois é que o acetaldeído, como já discutido aqui, é produzido pelo processo enzimático da fermentação enquanto o diacetyl é produzido por reações químicas fora das células de fermento.
O diacetyl, ou 2, 3-butanodiona é uma molécula composta por duas carbonilas.

Ele é produzido pela descarboxilação e oxidação de um composto metabólico do fermento, o alpha-acetolactato, durante a fermentação.
Todo esse papo de químico é simplesmente para informar que o diacetil sempre estará presente na cerveja, mesmo que apenas por um pequeno período de tempo. Além disso o diacetyl pode ser removido da cerveja através de uma reação de redução que o transforma em 2,3-butanodiol (que é neutro em termos de sabor e aroma). No entanto se o acetolactato ainda estiver presente na cerveja sempre existirá a possibilidade do diacetyl ser formado. Deste modo é importante reduzir a presença tanto do acetolactato como do diacetyl.
A parte boa de toda essa história é que o mesmo organismo que é responsável pela produção do diacetyl também é o responsábel pela remoção do mesmo da cerveja. Uma vez que a fermentação está chegando ao fim o fermento se encarrega de reabsorver o diacetyl para dentro das células e converte-lo em 2,3-butanodiol.
Para que o fermento remova tanto o diacetyl como seu precursor a cerveja só precisa ser mantida numa temperatura alta (19-21oC) por algum tempo. No entanto pouca remoção acontecerá uma vez que o mosto for transferido do fermentador primário para o secundário (tirando a cerveja de cima da lama do fermento). Portanto o repouso do diacetyl (diacetyl rest) deve ser feito no fermentador primário.
Ou seja, assim como o acetaldeído, o diacetyl é formado naturalmente durante o processo de fermentação e será removido pelo fermento ao final deste desde que a cerveja seja mantida na temperatura apropriado pelo tempo necessário. A dica, e o que eu faço, é uma vez terminada a fermentação (pouca atividade do air lock, estabilidade na densidade da cerveja) deixar mais 2 ou 3 dias a pelo menos 20oC para que o fermento possa limpar a cerveja ANTES de reduzir a temperatura para sedimentação e clarificação da cerveja.
No entanto existe outra fonte de formação de diacetil. Este pode ser produzido também po bactérias, principalmente o Pediococcus mas também por Lactobacilus. Isso pode acontecer se a cerveja foi contaminada e após ela ter sido fermentada. O Pediococcus pode produzir o diacetyl em concentrações da ordem de 3ppm, bem acima do perceptível. Neste caso não existe nada que possa ser feito para remover o diacetyl da cerveja.
nota: Grande parte das informações aqui presentes foram retiradas da matéria publicada na revista Brew Your Own (http://byo.com) de Julho/Agosto de 2011.
Fonte: http://rotenfussbier.wordpress.com/2012/07/03/diacetyl/

Escrevo pouco sobre off flavors e como tive alguns visitantes que chegaram ao blog via Google pesquisando sobre acetaldeído resolvi tocar neste assunto.
Acetaldeído é um off flavor associado ao gosto de maçã verde (correção: mação que ainda não amadureceu, não maçã da cor verde. Obrigado Maurício Chaulet) na cerveja pronta que pode ser gerado em várias etapas do processo de fermentação/maturação da cerveja. Ele é o composto químico cuja molécula pode ser representada por CH3CHO, que não é muito diferente da composição química do ethanol CH3CH2OH e isso explica um pouco de onde vem.
Durante a fermentação da cerveja o acetaldeído é um precursor do ethanol. Nesta o açucar é convertido em ácido pirúvico, na sequência este vira CO2 + acetaldeído e que no final é convertido em ethanol (vide ilustração abaixo).

Além disso o acetaldeído também pode ser formado por um reação de oxidação do ethanol após a fermentação. Neste caso o ethanol entra em contato com o oxigênio e se transforma em acetaldeído + água.
CH3CH2OH + 1/2O2 –> CH3CHO + H2O
O acetaldeído também pode ser produzido na conversão do ethanol em ácido acético, o que geralmente acontece quando a cerveja está contaminada.
Portanto este pode aparecer em quantidades perceptíveis em três casos:
- se a fermentação for interrompida antes do final com a remoção do fermento ou resfriamento da cerveja muito cedo.
- por contato com oxigênio após a fermentação em uma cerveja com pouca quantidade de fermento dissolvido.
- por contaminação.
Por ser produzido e consumido durante a fermentação, a presença de fermento ativo na cerveja durante a maturação (a “quente”) faz com que este remova o acetaldeído da cerveja.
Logo, como evitar a formação de acetaldeído?
- dar tempo necessário para o fermento completar o trabalho de fermentação na temperatura adequada – recomendado finalizar a fermentação no limite superior do fermento.
- uso da quantidade certa de células viáveis de fermento.
- evitar oxigenar a cerveja entre a fermentação e o envase.
- sanitização.
Referências:
An A – Z of beer flavour – Acetaldehyde – The Brewing Technology Blog
Ask the Brewmaster – Picobrewery.com
Homebrew off flavors – Acetaldehyde – Mash.Sparge.Boil
Acetaldehyde – Hmebrewtalk Wiki

Fonte: http://rotenfussbier.wordpress.com/2012/04/26/acetaldeido/
 
No caso, deixar a 0ºC não mata a levedura, correto? Depois que fizer o priming e envasar vai dar tudo certo? Deixei a APA que fiz por 8 dias a 18ºC, transferi para outro fermentador deixando o corpo de fundo no primeiro fermentador. Agora estou baixando a temperatura e pretendo deixar mais ou menos uma semana perto dos 0ºC pra depois clarificar com gelatina, passar para o outro fermentador de novo (deixando o corpo de fundo), fazer o priming e envasar. Está ok esse processo? Tem alguma dica?
 
Etendi. Mas maturar a 0ºC, clarificar com gelatina pra depois fazer o priming e envasar está ok?
 
Sem problemas, tudo no mesmo fermentador que você iniciou a fermentação. A gelatina que decanta ainda ajuda a dar uma "selada" na levedura que sedimentou, evitando que ela misture tão facilmente em caso de perturbação.
Só não exagera na gelatina! Nesse caso, mais não é melhor!
 
Mas eu jogo todo o priming nesse fermentador com gelatina e mexo ou é melhor botar em garrafa por garrafa com seringa?
 
Mas eu jogo todo o priming nesse fermentador com gelatina e mexo ou é melhor botar em garrafa por garrafa com seringa?
Não... peraí...

1) Fementação Primária
2) Fermentação Secundária
3) Gela o fermentador pelo menos de um dia pro outro
4) Aplica gelatina conforme o outro post que descrevi na área de Técnicas e espera 48 horas
5) Prepara a solução de primming, coloca num balde sanitizado, transfere a ceva pra esse balde cuidadosamente, mistura, e engarrafa.
 
Entendi, vou fazer sempre assim. Infelizmente antes de perguntar ali eu já tinha sanitizado outro fermentador e transferido a cerveja, deixando os resíduos no primeiro. Espero que nada dê errado, não farei mais dessa forma, vou passar a fazer nessas 5 etapas. Fiz a receita da "cerveja feita em casa" da eisenbahn, e lá o cervejeiro caseiro tinha orientado dessa forma.
 
Apeoveitando a oportunidade... vc q é um mero conhecedor da porra toda na arte da breja... saberia responder a duvida q postei sobre ibu em outro post?? Vlw!!
 
Uma aula!

Marcado para futuras referências...
 
Deixar a cerveja armazenada em baixa temperatura em barril tem o mesmo resultado de maturação que se deixar no fermentador? Nesse caso devo deixar a cerveja pressurizada com co2 ou não?

Sei que não dá pra fazer isso a toda hora, pois o barril é bem mais caro que o fermentador e por isso não terei como ter vários, mas por outro lado, a tendência é que deixe maturar por um tempo maior uma menor quantidade de cerveja e no freezer dá para empilhar 2 barris pequenos, mas não tem como empilhar fermentadores.

No caso de maturar em balde fermentador, durante a maturação devemos manter o airlock?
 
Deixar a cerveja armazenada em baixa temperatura em barril tem o mesmo resultado de maturação que se deixar no fermentador? Nesse caso devo deixar a cerveja pressurizada com co2 ou não?

Sei que não dá pra fazer isso a toda hora, pois o barril é bem mais caro que o fermentador e por isso não terei como ter vários, mas por outro lado, a tendência é que deixe maturar por um tempo maior uma menor quantidade de cerveja e no freezer dá para empilhar 2 barris pequenos, mas não tem como empilhar fermentadores.

No caso de maturar em balde fermentador, durante a maturação devemos manter o airlock?
Deixar já no barril é até melhor, e sim, já pressurizado/carbonatado.

Abraço,
 
Guenter, uma dúvida... ia abrir tópico novo, mas acho que neste pode ser centralizado, por ser relacionado à fermentação secundária...

Estou com uma leva de red ale, em fermentação primária. 14l no balde, OG 1,056. um sachê de Muntons Gold 6g (indicado para levas de 20l) devidamente hidratado, temperatura controlada em 19º com variação em 1º.

Pois bem, pelo Beersmith (que para muitos é como se estivesse sentado a direita do Pai, todo poderoso...) a fermentação primária deveria ocorrer por 7 dias em temperatura de 20º, e a secundária deveria ocorrer por 3 dias em temperatura de 15º.

Neste ponto minha pergunta: qual a função que a fermentação secundária tem sendo realizada com temperaturas mais baixas? Eu não deveria realizar o descanso do diacetil, aumentando a temperatura até uns 22º por uns 3 ou 4 dias para somente após baixá-la?

PS. baita forum, baita tópico...
 
Guenter, uma dúvida... ia abrir tópico novo, mas acho que neste pode ser centralizado, por ser relacionado à fermentação secundária...

Estou com uma leva de red ale, em fermentação primária. 14l no balde, OG 1,056. um sachê de Muntons Gold 6g (indicado para levas de 20l) devidamente hidratado, temperatura controlada em 19º com variação em 1º.

Pois bem, pelo Beersmith (que para muitos é como se estivesse sentado a direita do Pai, todo poderoso...) a fermentação primária deveria ocorrer por 7 dias em temperatura de 20º, e a secundária deveria ocorrer por 3 dias em temperatura de 15º.

Neste ponto minha pergunta: qual a função que a fermentação secundária tem sendo realizada com temperaturas mais baixas? Eu não deveria realizar o descanso do diacetil, aumentando a temperatura até uns 22º por uns 3 ou 4 dias para somente após baixá-la?

PS. baita forum, baita tópico...
O que o software diz não quer dizer que é o mais correto.

O mais correto, na minha opinião, é o que as literaturas especializadas e experimentos dizem, e o que eles dizem, é justamente pra aumentar a temperatura ao final da fermentação primária para promover uma atenuação mais completa e já iniciar a fermentação secundária em ritmo acelerado.

Ou seja, no BeerSmith tu podes escolher 1001 tipos de perfil de mosturação (step mash, infusion, etc), como perfis de fermentação, e de carbonatação.

Pra começar, não EXISTE isso de "fermentar por X dias". Como diria o Padre Quevedo: "NON ECSISTE!". Eu ficou P@#$@#$ da vida cada vez que vejo uma receita na internet dizendo "fermente por X dias", ou "mature por X dias".

E outra, o que o BeerSmith diz, e os perfis que ele tem cadastrado, são simplesmente opções para o cervejeiro escolher, e isso é baseado em amostragem, ou seja, essas opções só constam ali porque muitos cervejeiros fazem assim, mas isso não quer dizer que são as melhores.

Abraço,
 
Fiz recentemente uma IPA que no final de sua fermentação, iniciei a maturação com dryhop.

Passados 15 dias fiz o priming e engarrafei.

Passados mais 15 dias, as garrafas estavam sem nenhum gas. Observando o fundo das garrafas notei que não havia fermento depositado. Então (desanimado) abri todas garrafas, voltei para o balde, re-adicionei fermento e engarrafei. 10 dias depois estavam carbonatadas.

Enfim, depois dessa introdução toda, questiono a necessidade de adicionar fermento junto ao priming para engarrafar cervejas maturadas por mais tempo. Ou a maturação na garrafa não tem o mesmo efeito? sempre acreditei que sim.

Novamente aconteceu. Agora com uma Imperial IPA e uma "beetale".
maturaram a frio (4ºC) por uns dias, fizemos o priming e engarrafamos.

Hj é o 10º dia (temperatura ambiente em torno de 20º) e o manômetro ainda está preso em 0,5. Abrimos uma para ver se não era problema no manômetro, mas estava COMPLETAMENTE SEM GÁS.

De qualquer modo, presumo que a quantidade de fermento está baixa e ela pode demorar um pouco mais para carbonatar, vou esperar fechar 14 dias para abrir a próxima.
 
Guenther,

Dúvidas sobre o cold crash, deve-se baixar a temperatura em uma taxa mais lenta como 1-2°C por dia, ou já setar a temperatura mais baixa possível sem congelar?
 
Se tu quiseres reaproveitar o fermento, é interessante baixar devagar. Fazendo isso, estimula-se o fermento a construir reservas de glicogênio, ácidos graxos, esteróis, e sobretudo um carboidrato chamado trealose (em inglês, Trehalose), que é um dissacarídeo (2 glicoses), que, em outras palavras, serve como se fosse um "casaco de pele" para a membrana celular, protegendo-a de temperaturas severas (quente ou frio), e protege também contra presença de álcool e pressões osmóticas desfavoráveis, o que resumindo, faz a levedura viver muito mais tempo em período de estagnação/hibernação.

Se não for reaproveitar, cold-crash direto pra temperatura baixa não-congelante.

Abraço,
 
Perfeitamente sanadas as dúvidas, sintetiza muito bem o que vá vi ou ouvi sobre essa etapa. Muito obrigado, essa thread tá profissa!
 
Muito bacana o tópico Guenther - realmente ajuda a seguir aprendendo!
Vou aplicar e ver os resultados.
Sou novato, já na sétima brassagem, e, por alto, sigo as etapas sugeridas com uma exceção: a troca de baldes entre fermentação e maturação. Confesso que não realizar essa troca me causou espanto. Veremos no que vai dar - dou notícias!

Abs aí!
 
Guenther....Cara...ótimo post....me tirou muitas dúvidas....ainda não comecei a fazer a minha cerva...já comprei os equipo e os insumos...mas quero ainda dar umas boas pesquisadas....obrigado
 
Ótima thread, muito informativa, parabéns ao Guenther e a todos que contribuiram.

Tenho uma dúvida quanto à ordem do processo: estou fazendo levas de 5L e envasando em garrafas. Devo fazer primming, envase e refermentação (controlada a 18ºC) antes ou depois da maturação (controlada a 0ºC)?

Se não houver resposta mais correta, quais as vantagens e desvantagens de se fazer de uma forma e da outra?
 
Ultimamente estou com minhas produções demorando muito para "arredondar" o sabor. Aquele sabor de "cerveja verde" ou seja de fermentação perduram por mais de 30-45 dias.

Cervejas com OG de no máx. 1055.

Pode ser problema exclusivamente com fermentação? Conduzo a fermentação(todos os estágios) com mais cuidados que anteriormente onde fiz porter com 1080 de OG que com 20 dias estava ótima!!

Com alguns tipos de fermento concordo que deva ter uma maturação mais demorada (ex.: t-58), mas com US-05.....

Alguma orientação? Valeu!
 
Estou intrigado.

Se na indústria a temperatura de fermentação é controla pela camisa do fermentador em inox certo?! ( inserindo liquido refrigerado)
Como fazem para fermentar a 18 ou a segunda fermentação a 24C° em um inverno aonde a temperatura ambiente é 5?!?
 
Estou intrigado.

Se na indústria a temperatura de fermentação é controla pela camisa do fermentador em inox certo?! ( inserindo liquido refrigerado)
Como fazem para fermentar a 18 ou a segunda fermentação a 24C° em um inverno aonde a temperatura ambiente é 5?!?

No meu caso, uso uma pequena adega climatizada de vinho sem as prateleiras. Tenho uma de 12 garrafas que cabe perfeitamente o meu baldinho de 5L. Ela tem seletor de 10 a 18 graus, embora eu só consiga regularidade acima de 15.
Aqui em Brasília o inverno é menos rigoroso, não temos temperaturas tão baixas.
 
No meu caso, uso uma pequena adega climatizada de vinho sem as prateleiras. Tenho uma de 12 garrafas que cabe perfeitamente o meu baldinho de 5L. Ela tem seletor de 10 a 18 graus, embora eu só consiga regularidade acima de 15.
Aqui em Brasília o inverno é menos rigoroso, não temos temperaturas tão baixas.

claro, em casos de lotes pequenos fica perfeitamente fácil aumentar a temperatura, colocando dentro da geladeira um uma lampado no tic por exemplo.

Mas acima de 200l, 1.000l tanques de 10.000l, como fazem esse controle?
 
claro, em casos de lotes pequenos fica perfeitamente fácil aumentar a temperatura, colocando dentro da geladeira um uma lampado no tic por exemplo.

Mas acima de 200l, 1.000l tanques de 10.000l, como fazem esse controle?

Rafael, quando você menciona a lâmpada dentro da geladeira, você utiliza que tipo de lâmpada? E de quantos watts?
 
Rafael, quando você menciona a lâmpada dentro da geladeira, você utiliza que tipo de lâmpada? E de quantos watts?

A lâmpada incandescente, pois o seu rendimento é de apenas 10%, isto é, uma lâmpada de 100 watts nos dá apenas 10 watts de luz. O restante é em calor ( 90 watts).
 
Ótima thread, muito informativa, parabéns ao Guenther e a todos que contribuiram.

Tenho uma dúvida quanto à ordem do processo: estou fazendo levas de 5L e envasando em garrafas. Devo fazer primming, envase e refermentação (controlada a 18ºC) antes ou depois da maturação (controlada a 0ºC)?

Se não houver resposta mais correta, quais as vantagens e desvantagens de se fazer de uma forma e da outra?
Não tem diferença... pode fazer do jeito que achar melhor.

Abraço!
 
Ultimamente estou com minhas produções demorando muito para "arredondar" o sabor. Aquele sabor de "cerveja verde" ou seja de fermentação perduram por mais de 30-45 dias.

Cervejas com OG de no máx. 1055.

Pode ser problema exclusivamente com fermentação? Conduzo a fermentação(todos os estágios) com mais cuidados que anteriormente onde fiz porter com 1080 de OG que com 20 dias estava ótima!!

Com alguns tipos de fermento concordo que deva ter uma maturação mais demorada (ex.: t-58), mas com US-05.....

Alguma orientação? Valeu!
Isso se resume à fermentação primária e secundária.

Uma frase clássica do Palmer, que eu já comprovei inúmeras vezes na prática: "Uma cerveja fermentada corretamente estará melhor em 10 dias do que uma fermentada de forma precária com 3 meses de maturação."

Ou seja, reveja o processo. Tem certeza que está usando a quantidade correta de fermento? Está reidratando corretamente (fermento seco)? Está fazendo starter (fermento líquido ou slurry). Está oxigenando o suficiente? Será que a água que tu utiliza tem pelo menos 50pmm de cálcio?

Cara, experiência própria.... eu, até hoje, toda a vez que faço cerveja, consigo melhorar meu processo em termos de fermentação primária e secundária, SEMPRE tem o que melhorar, ou seja, não assuma que faz tudo certo. Se algo tá saindo errado, é porque... algo está errado. É assim que eu penso sempre.

Abração!
 
Estou intrigado.

Se na indústria a temperatura de fermentação é controla pela camisa do fermentador em inox certo?! ( inserindo liquido refrigerado)
Como fazem para fermentar a 18 ou a segunda fermentação a 24C° em um inverno aonde a temperatura ambiente é 5?!?
Simples.

Se tu fermenta numa geladeira, por exemplo, com temperatura controlada...

TEMPO TÉCNICO - temperatura controla ====== sensor de temperatura colado na parede do fermentador com fita adesiva, um pedaço de isolante térmico por cima, vedado também com fita adesiva, e termostato setado para um diferencial baixo (0,2 ºC).

...voltando, se tu fermenta numa geladeira, por exemplo, com temperatura controlada, basta colocar dentro da geladeira, em algum lugar, uma extensão com uma lâmpada, e pode ser daquelas econômicas e com baixa potência. O calor que ela vai gerar vai "simular" uma temperatura ambiente mais alta, como se a temperatura externa fosse 25 graus, por exemplo.

Dá pra usar ela sempre ligada (caso teu controlador seja muito simples), ou dá pra ligar na saída NF do termostato (só vai ligar a lampada quando a geladeira desligar), ou ainda, se pegar um termostato com duas funções, podes regular a temperatura mínima (se baixar disso a lampada liga) e máxima (se passar disso, a geladeira liga).

Abração,
 
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