Neste sábado resolvi me aventurar e tentar uma brassagem de 20 litros no meu apartamento. Segue abaixo o relato da aventura, para (des)encorajar aventureiros como eu. Infelizmente não tenho fotos, mas segue o longo relato:
Moro em um apartamento de 85 m2, com uma boa sacada. Tenho um fogão de acordo e um equipamento razoável para homebrew, nada de especial mas OK. Achei uma boa, e junto com meu cunhado, resolvemos arriscar uma brassagem de uma witbier.
Antes de tudo, deixei as coisas bem organizadas. Liberei espaço suficiente na sala e na cozinha, separei os ingredientes, tudo certo. Começei a brincadeira por volta das 8h da manhã
Primeira parte, moer o malte. Fizemos na sacada, com o moedor padrão da Guzzo e usando uma parafusadeira como motor. Foi meu primeiro teste da parafusadeira, tudo perfeito. Em poucos minutinhos, terminamos os 3,5kg de malte pilsen. Reparei que os grãos ficaram bem inteiros e resolvi moer de novo. Discos ajustados, sem problemas, muito rápido. Depois foi a vez dos grãos de trigo. Mas desta vez foi mais difícil. Mais duros, os grãos ficaram mais inteiros do que eu gostaria. E cometi um pequeno erro, não separei do restante do malte. Poderia moer tudo mais uma vez, mas achei que ia ser demais. Paciência, vamos assim mesmo. Fez um pouco de sujeira, mas o aspirador deu conta de limpar tudo.
Começamos a cozinhar. Tenho um fogão Brastemp, bem comum, mas com uma boca bem maior que as outras. Me surpreendi, com a chama no máximo as temperaturas subiram em um ritmo bom. Não precisei usar a resistência elétrica em nenhum momento (que por sinal, reparei que está soltando um pó branco, não sei o que é. Se alguém souber, agradeço)
Parada proetica, OK
Sacarificação, perfeito
Mash out, tudo lindo
Começamos a recircular. Usei pela primeira vez também a bomba de máquina de lavar louça, conectada por duas mangueiras de PVC atoxica, devidamente presas por braçadeiras e ligadas na panela por um conversor de 3/4 para 1 pol, esta sem braçadeira mas bem fixa. Na semana anterior fiz alguns testes e se comportou muito bem. Mas agora, pra valer, as coisas ficaram um pouco mais complicadas.
A circulação começou bem. A bomba não é muito forte, as vezes parava. Mas nada que uma movimentação manual da tubulação não resolvesse. A filtragem estava boa, já dava para sentir o mosto saindo bem limpo depois de alguns minutos. Porém...
Quando comprei a mangueira, o vendedor avisou que a temperatura máxima era em torno de 60º. No mash out, tinha o mosto a 74º. Resolvi arriscar e aparentemente não havia problemas. Mas depois de um tempo, o líquido quente amoleceu a mangueira, e uma das conexões se desprendeu. Um jato quente de mosto (bem rico em açucar) emporcalhou toda a cozinha, do chão aos armários.
Bom, faz parte do jogo. Limpei mais ou menos e achei por bem encerrar a recirculação. Transferimos para o balde e usei uma peneira pra filtrar. O resultado foi muito bom, o líquido saiu bem turvo (ok para uma cerveja de trigo) mas sem sinal de cereais.
Com o líquido no balde, comecei a limpar a panela. Tirar todo aqueles grãos ensopados não foi fácil e sujeira na pia começou a aumentar. Queria ter separado um pouco do malte para fazer pão, mas com bagunça toda, achei por bem jogar fora mesmo. Não queria demorar muito para começar a fervura.
Obviamente a panela de 36 litros não cabia na pia. O único lugar para lavar foi no box do banheiro. Apesar da cena trash, deu tudo certo, com (relativamente) pouca molhadeira.
De volta para a cozinha, começamos a fervura. Desta vez, percebi que a temperatura demorou um pouco mais para subir. Se tivesse usado a resistência, acho que teria subido mais rápido e perdido menos com a evaporação. Mas fiquei receoso em função daquele pó, enfim. Vamos no fogo mesmo.
Lupulo OK
Irish moss OK
Coentro + laranja OK
Nesse meio tempo, começei a preparar o chiller. Deixei tudo a postos, mangueira, conexões, tudo para ligar na torneira da sacada. Mas tive outro problema, desta vez mais sério. Minha torneira, não sei por que, tem um formato diferente, impossível de rosquear na mangueira e conectar no chiller. Tentei tudo que tinha em casa e ainda pedi emprestado mais algumas coisas na portaria do prédio. Mas não teve jeito. Ainda tentei fazer o fluxo de água correr usando a bomba, mas o problema da mangueira quente parece que gerou um pequeno vazamento também nas conexões internas (a bomba está montada dentro de uma pequena caixa) e percebi que precisaria de mais tempo para entender o que aconteceu e resolver. Nisso, a fervura já estava indo para os minutos finais.
Bom, hora de aceitar a falha e ver o que dá para fazer. A solução era tentar resfriar apenas colocando o balde dentro de uma panela com gelo. Tinha feito bastante gelo no congelador no dia anterior
Apesar das dificuldades, fiz a medição da OG e cheguei em 1.049, absolutamente dentro da margem esperada. Em função da evaporação, resolvi acrescentar um pouco mais de água. Fiz a conta e cheguei em 1.044, no piso da faixa. Tudo certo.
Bom, com os esforços cheguei em 40º, muito acima do que gostaria. Paciência. Já era em torno de 4h da tarde, estávamos cansados e com fome. O jeito era encerrar. Colocamos as leveduras, lacramos o balde e fechamos com o airlock. A cerveja agora vai descansar no quartinho da garagem, que tem uma temperatura bacana e bem estável. Nas próximas semanas, conto como ficou.
Muitas lições aprendidas e muitos próximos passos. Vamos precisar repensar bem toda a parte da bomba - uma opção seria trocar as mangueiras de PVC por silicone, que funcionam bem em altas temperaturas. Mas não sei se a sucção da bomba não vai fazer o silicone fechar. Talvez valha a pena pensar em outra bomba mais adequada também. A parte do resfriamento vale uma revisão geral. Estou bem tentado a buscar um chiller de placa, apesar de já ter ouvido muitos alertas sobre a questão da sanitização. Tem que pensar.
Por fim, apesar da enorme bagunça e dos problemas enfrentados, acredito que a experiência foi válida. Quem quiser arriscar uma brassagem no apartamento precisa planejar MUITO, mas MUITO mesmo. Não há espaço para improvisos, tudo precisa estar funcionando redondo. E ainda assim, é possível que você tenha bastante trabalho, especialmente com a limpeza de tudo.
Um abraço a todos
Rafael
Moro em um apartamento de 85 m2, com uma boa sacada. Tenho um fogão de acordo e um equipamento razoável para homebrew, nada de especial mas OK. Achei uma boa, e junto com meu cunhado, resolvemos arriscar uma brassagem de uma witbier.
Antes de tudo, deixei as coisas bem organizadas. Liberei espaço suficiente na sala e na cozinha, separei os ingredientes, tudo certo. Começei a brincadeira por volta das 8h da manhã
Primeira parte, moer o malte. Fizemos na sacada, com o moedor padrão da Guzzo e usando uma parafusadeira como motor. Foi meu primeiro teste da parafusadeira, tudo perfeito. Em poucos minutinhos, terminamos os 3,5kg de malte pilsen. Reparei que os grãos ficaram bem inteiros e resolvi moer de novo. Discos ajustados, sem problemas, muito rápido. Depois foi a vez dos grãos de trigo. Mas desta vez foi mais difícil. Mais duros, os grãos ficaram mais inteiros do que eu gostaria. E cometi um pequeno erro, não separei do restante do malte. Poderia moer tudo mais uma vez, mas achei que ia ser demais. Paciência, vamos assim mesmo. Fez um pouco de sujeira, mas o aspirador deu conta de limpar tudo.
Começamos a cozinhar. Tenho um fogão Brastemp, bem comum, mas com uma boca bem maior que as outras. Me surpreendi, com a chama no máximo as temperaturas subiram em um ritmo bom. Não precisei usar a resistência elétrica em nenhum momento (que por sinal, reparei que está soltando um pó branco, não sei o que é. Se alguém souber, agradeço)
Parada proetica, OK
Sacarificação, perfeito
Mash out, tudo lindo
Começamos a recircular. Usei pela primeira vez também a bomba de máquina de lavar louça, conectada por duas mangueiras de PVC atoxica, devidamente presas por braçadeiras e ligadas na panela por um conversor de 3/4 para 1 pol, esta sem braçadeira mas bem fixa. Na semana anterior fiz alguns testes e se comportou muito bem. Mas agora, pra valer, as coisas ficaram um pouco mais complicadas.
A circulação começou bem. A bomba não é muito forte, as vezes parava. Mas nada que uma movimentação manual da tubulação não resolvesse. A filtragem estava boa, já dava para sentir o mosto saindo bem limpo depois de alguns minutos. Porém...
Quando comprei a mangueira, o vendedor avisou que a temperatura máxima era em torno de 60º. No mash out, tinha o mosto a 74º. Resolvi arriscar e aparentemente não havia problemas. Mas depois de um tempo, o líquido quente amoleceu a mangueira, e uma das conexões se desprendeu. Um jato quente de mosto (bem rico em açucar) emporcalhou toda a cozinha, do chão aos armários.
Bom, faz parte do jogo. Limpei mais ou menos e achei por bem encerrar a recirculação. Transferimos para o balde e usei uma peneira pra filtrar. O resultado foi muito bom, o líquido saiu bem turvo (ok para uma cerveja de trigo) mas sem sinal de cereais.
Com o líquido no balde, comecei a limpar a panela. Tirar todo aqueles grãos ensopados não foi fácil e sujeira na pia começou a aumentar. Queria ter separado um pouco do malte para fazer pão, mas com bagunça toda, achei por bem jogar fora mesmo. Não queria demorar muito para começar a fervura.
Obviamente a panela de 36 litros não cabia na pia. O único lugar para lavar foi no box do banheiro. Apesar da cena trash, deu tudo certo, com (relativamente) pouca molhadeira.
De volta para a cozinha, começamos a fervura. Desta vez, percebi que a temperatura demorou um pouco mais para subir. Se tivesse usado a resistência, acho que teria subido mais rápido e perdido menos com a evaporação. Mas fiquei receoso em função daquele pó, enfim. Vamos no fogo mesmo.
Lupulo OK
Irish moss OK
Coentro + laranja OK
Nesse meio tempo, começei a preparar o chiller. Deixei tudo a postos, mangueira, conexões, tudo para ligar na torneira da sacada. Mas tive outro problema, desta vez mais sério. Minha torneira, não sei por que, tem um formato diferente, impossível de rosquear na mangueira e conectar no chiller. Tentei tudo que tinha em casa e ainda pedi emprestado mais algumas coisas na portaria do prédio. Mas não teve jeito. Ainda tentei fazer o fluxo de água correr usando a bomba, mas o problema da mangueira quente parece que gerou um pequeno vazamento também nas conexões internas (a bomba está montada dentro de uma pequena caixa) e percebi que precisaria de mais tempo para entender o que aconteceu e resolver. Nisso, a fervura já estava indo para os minutos finais.
Bom, hora de aceitar a falha e ver o que dá para fazer. A solução era tentar resfriar apenas colocando o balde dentro de uma panela com gelo. Tinha feito bastante gelo no congelador no dia anterior
Apesar das dificuldades, fiz a medição da OG e cheguei em 1.049, absolutamente dentro da margem esperada. Em função da evaporação, resolvi acrescentar um pouco mais de água. Fiz a conta e cheguei em 1.044, no piso da faixa. Tudo certo.
Bom, com os esforços cheguei em 40º, muito acima do que gostaria. Paciência. Já era em torno de 4h da tarde, estávamos cansados e com fome. O jeito era encerrar. Colocamos as leveduras, lacramos o balde e fechamos com o airlock. A cerveja agora vai descansar no quartinho da garagem, que tem uma temperatura bacana e bem estável. Nas próximas semanas, conto como ficou.
Muitas lições aprendidas e muitos próximos passos. Vamos precisar repensar bem toda a parte da bomba - uma opção seria trocar as mangueiras de PVC por silicone, que funcionam bem em altas temperaturas. Mas não sei se a sucção da bomba não vai fazer o silicone fechar. Talvez valha a pena pensar em outra bomba mais adequada também. A parte do resfriamento vale uma revisão geral. Estou bem tentado a buscar um chiller de placa, apesar de já ter ouvido muitos alertas sobre a questão da sanitização. Tem que pensar.
Por fim, apesar da enorme bagunça e dos problemas enfrentados, acredito que a experiência foi válida. Quem quiser arriscar uma brassagem no apartamento precisa planejar MUITO, mas MUITO mesmo. Não há espaço para improvisos, tudo precisa estar funcionando redondo. E ainda assim, é possível que você tenha bastante trabalho, especialmente com a limpeza de tudo.
Um abraço a todos
Rafael