Azedando o mosto com lactobacillos - Sour Mash

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silviogrimaldo

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No grupo do whatsapp pediram-me para descrever o processo de sour mash que estou usando em uma Saison que brassei ontem e que normalmente uso nas minhas Dry Stouts. A primeira coisa que deve dizer, contudo, é que eu não sou um especialista no assunto, que descobri o sour mash por acaso e depois acabei lendo uns artigos na internet e no livro do Brad Smith. É tudo experimental e eu não tenho muita idéia do tipo de coisa que ocorre, quais os lactobacillos mais presentes, quais os subprodutos gerados pela fermentação além do ácido láctico, qual a densidade ideal do mosto a ser azedado, etc.

Quem preferir, pode ler diretamente os textos que eu achei mais úteis.

Sour Mashing: Techniques
http://byo.com/kegging/item/1691-sour-mashing-techniques

Souered beer
http://beersmith.com/blog/2009/08/11/soured-beer-in-homebrewing/

E o blog do Tonsmeire, autor do American Sour Beer, o Mad Fermentalist, que é uma espécie de enciclopédia e laboratório de um cara que entende tudo de cerveja azeda.
http://www.themadfermentationist.com/


Outra coisa importante dizer é que esse Sour Mash que eu faço, e que o Brad Smith explica, é diferente do processo de fermentação de uma lambic, de uma gueuze e mesmo de um flanders. A diferença básica é que o mosto é azedado com ácido láctico ANTES da fermentação com o Saccharomyces. Eu já fiz uma cerveja com 100% de mosto fermentado com lactobacilos, depois com Saccharomyces, maturada sobre purê de morango, e que depois de dois meses de garrafa “parecia” uma lambic commportada. Mas não é a mesma coisa. Para quem não tem paciência de esperar um ano ou dois para preparar uma lambic, essa técnica é um bom atalho.

Vamos lá.

Há várias maneiras de azedar o mosto. A mais fácil é adicionar ácido láctico durante o mash, o que ajuda a abaixar o Ph da água, aumenta a eficiência, mas que não tem graça nenhuma. A outra é usar malte acidificado, que eu nunca usei e não tenho idéia de como funcionaria. Uma terceira, essa sim divertida, é adicionar uma bactéria que produz ácido láctico no mosto. Uma opção é colocar Brettanomices no fermentador, ou alguma fermento próprio para isso, e esperar alguns anos. Outra, é colocar a bactéria antes da fervura, esperar uns dias até azedar, matar o bichinho com o calor e fermentar a cerveja normalmente. Essa é a técnica que usei na minha Saison.

É muito simples.
1) Você faz o mash como de costume.
2) Depois do sparge, retira uma quantidade de mosto que deve variar de acordo com seu gosto ou receita. O Brad Smith recomenda de 3 a 4% do total do mosto para uma Stout, e 25% para uma “Flanders”. Na minha Saison foram 10%.
3) Separe esse mosto e ferva o restante, adicione lúpulo, esfrie e leve ao fermentador normalmente, seguindo sua receita.
4) Coloque o mosto que vai azedar num lugar escuro, de preferência quente, com umas três colheres do bagaço do malte. Espere uns 3 dias ou o tempo que você achar necessário de acordo com o quão azedo deseja. Mais tempo, mais azedo. Vai parecer que a coisa está estragada e que não vale a pena misturá-la ao mosto que já está fermentando há 3 dias e que está tão cheiroso. Mas vale sim. Depois de 3 dias, se tudo está ok, vai se formar uma película branca e nojenta na superficie do mosto. Ela é importante, pois impede o contato com o ar. Deixe ela lá.
5) Quando achar que azedou o bastante, sifone o mosto azedo para uma panela, tomando cuidado para não levar sedimentos nem a película branca, e ferva tudo por uma meia hora.
6) Esfrie e adicione à cerveja que está no fermentador. Daí pra frente, siga a receita como de costume. Depois de atenuar, maturação, dry hopping, frutas, cold crash, gelatina, etc. Engarrafe e espere.

Quando faço com frutas e bem azeda, em dois meses está boa. Em três, muito boa. A dry stout dá para tomar depois de duas semanas. Ou no postmix logo em seguida, porque, afinal, ninguém consegue esperar tanto. Mas se esperar um mês, é melhor.

Essa Saison que está maturando, que na verdade eu chamo de Saison só por falta de outro nome, será dividida em dois maturadores, ambas as partes já devidamente azedada. Uma vai ficar “natural”, a outra parte vai deitar sobre polpa de goiaba congelada, mais ou menos um quilo para 10 litros, por umas duas semanas. Depois, tudo para a garrafa.

Ainda estou na dúvida se coloco gelatina ou não. O que sugerem?

***
Alguém me perguntou se dá para azedar o mosto que sobra no Mash Tun depois do sparge. Sim, dá. Eu já fiz algumas weiss assim. Faço a receita inteira, sem separar uma parte do mosto e levo tudo para o fermentador. Depois, dreno aquele restinho de mosto que sobrou no bagaço e o deixo azedando. Na verdade, como meu mash tun é um cooler, eu só o deixo tampado por uns 3 dias, no sol, e depois tiro lá de dentro o líquido azedo, fervo e o coloco no fermentador. A densidade, obviamente, cai um pouco, mas tenho a impressão de que não é muita coisa.

***
Uma das razões de misturar cerveja azeda na dry stout é ressaltar e equilibrar o torrado da cevada não maltada. Portanto, na minha opinião, não faz sentido aplicar essa técnica numa stout da qual neguinho ficou bolando mil maneiras de amenizar o gosto do torrado, como colocar a cevada no final do mash, extrair a coloração a frio, etc. Na verdade, como eu sou um stout freak, se não é para sentir o torrado, vá tomar malzebier! ;)

***
A razão de se usar o bagaço do malte para azedar o mosto é que a casca da cevada, assim como a de outro cereais e de quase todas as frutas e legumes, é habitada por lactobacilos, que só precisam de um meio adequado (água morna e açúcares) para fermentar. Daria para colocar qualquer outra coisa no mosto, ou, como diz o Brad Smith, deixar só o mosto mesmo, com a tampa aberta, que naturalmente vai se formar ácido láctico. Acho que aqui mesmo no fórum alguém disse que tacou Yakult no mosto e deu certo. Eu já fiz um teste com DME e o soro do chucrute que eu mesmo fermento. Ficou um cheiro bom e bastante azedo, mas nunca o usei numa cerveja.
 
Cara, uma vez li um material muito interessante sobre isso e acho que era do Brad Smith. Na ocasião, ele recomendava fazer uma brassagem prolongada, com a adição de grãos inteiros de malte de cevada na fase de sacarificação e deixar em repouso por um, dois ou três dias, de acordo com a intensidade de azedume que se deseja obter. Claro que isso só é possível pra quem faz a brassagem em um cooler, senão vai ter que ficar aquecendo tudo por dias. Cheguei a comprar um cooler pra fazer isso, mas nunca testei.
 
Cara, uma vez li um material muito interessante sobre isso e acho que era do Brad Smith. Na ocasião, ele recomendava fazer uma brassagem prolongada, com a adição de grãos inteiros de malte de cevada na fase de sacarificação e deixar em repouso por um, dois ou três dias, de acordo com a intensidade de azedume que se deseja obter. Claro que isso só é possível pra quem faz a brassagem em um cooler, senão vai ter que ficar aquecendo tudo por dias. Cheguei a comprar um cooler pra fazer isso, mas nunca testei.

Até dá pra fazer em panela, no verão talvez, mas tem que ser de inox, por causa do meio ácido, vai solubilizar algum aluminio caso seja usado. Com cooler não seria muito certo também usar manifold de cobre ou peças de latão.

Tem algumas micros americanas que fazem esse tipo de sour mash. Mas particularmente eu acho mais seguro e previsível azedar o mosto limpo e com um starter de microorganismos selecionados. Nada impede de usar grão cru de cevada, mas faria um "starter" dele primeiro, num frasco menor e hermeticamente fechado pra impedir a entrada de oxigênio, assim faria uma pré-seleção de lactobacillus selvagens, e a acidificação do starter já eliminaria as bactérias malvadas. Essa também é a recomendação do Michael Madfermentationist.

Abraço
 
Tiago, o meu cooler não tem cobre, é um findo falso de plástico, um prato de plástico, na verdade.

Como você faria a pré-seleção dos lactobacilos?
 
Tiago, o meu cooler não tem cobre, é um findo falso de plástico, um prato de plástico, na verdade.

Como você faria a pré-seleção dos lactobacilos?

Tenta eliminar o oxigênio colocando um plástico filme no topo, tirando ao máximo as bolhas de ar e mantém sempre perto de 37C, pois acetobacter não cresce bem nessas condições mas o lacto sim. Qual lacto não dá para saber. Já fiz isso para uma Berliner Weisse. Testei lotes separados com o mesmo mosto mas fermentando um com cultura de lacto de laboratório, outro com a cultura que consegui com esse procedimento e outro com o berliner weisse mix da White Labs. O que teve essa cultura de casca de mate ficou com um quê selvagem. Pura não ficou boa, mas blendada com as outras versões deu certo. As melhores foram as versões de culturas de laboratório mesmo. Bem mais limpas, sem off flavours e com acidez muito boa, destacada.
 
Tiago, o meu cooler não tem cobre, é um findo falso de plástico, um prato de plástico, na verdade.

Como você faria a pré-seleção dos lactobacilos?

O Madfermentationist sugere fazer um starter de mosto leve, pode ser de aprox. 1L, não-lupulado. Colocar alguns grãos lá dentro, tentar deixar o mínimo de headspace. Fechar o recipiente. Se for de plástico pode fechar totalmente, se for de vidro melhor usar um airlock, pra que não entre ar, assim seleciona os microorganismos anaeróbicos.

Deixaria ali por uns 7 dias, depois vc pode fazer uma análise sensorial do starter (cheirar e talvez beber uma amostra) pra ver se ele tá legal ou não. Aromas que não devem estar presentes são aqueles de podre, vomito, etc... indica a presença de outras bactérias.

edit: tinha esquecido de adicionar que também é interessante abaixar o pH do mosto antes da exposição dele. Isso pode ser feito com qualquer ácido food-grade, os mais usados são lático, fosfórico e cítrico. O pH baixo ajuda a tirar de cena alguns contaminantes.
 
Tenta eliminar o oxigênio colocando um plástico filme no topo, tirando ao máximo as bolhas de ar e mantém sempre perto de 37C, pois acetobacter não cresce bem nessas condições mas o lacto sim. Qual lacto não dá para saber. Já fiz isso para uma Berliner Weisse. Testei lotes separados com o mesmo mosto mas fermentando um com cultura de lacto de laboratório, outro com a cultura que consegui com esse procedimento e outro com o berliner weisse mix da White Labs. O que teve essa cultura de casca de mate ficou com um quê selvagem. Pura não ficou boa, mas blendada com as outras versões deu certo. As melhores foram as versões de culturas de laboratório mesmo. Bem mais limpas, sem off flavours e com acidez muito boa, destacada.

O contaminante mais comum não é acetobacter, ele é mais lento e consome álcool, na fermentação lática o alcool nem sempre está presente. Normalmente são enterobacterias, elas causam aqueles cheiros horríveis de chorume e materia organica em decomposição...

Interessante o relato do sour mash. Nunca tentei fazer dessa forma. Talvez alguns off-flavors sejam comuns através desse processo, não pela cepa selvagem de lactobacillus, mas de alguns contaminantes presentes que acabam conseguindo atuar por algum tempo...
 
Ha diferença na acidez gerada por lactos isoldos em laboratorio da acidez quando se joga maozada de graos de cevada no mosto?
 
Comprei nos EUA um composto de lactos. Usei 5 comprimidos pra 20 litros. Grist de malte: metade pilsen e metade trigo. Apos mash out, fervi por 15 minutos pra matar tudo, resfriei pra cerca de 35 graus e joguei no balde com os pozinhos dos comprimidos (de lacto).

Apos 2 dias ph baixou pra 3.5. Voltei pra fervura, botei lupulo, resfriei pra 20 e poucos graus e botei fermento saison. Fermentou e tals. Adicionei maracuja e ficou uma otima berliner.

Antes de ferver e matar os lactos, tirei uma "isca". Uns 400ml de mosto acificado (sem ferver), deixei n geldeira e usei posteriormente em outra berliner, com mesmo grist de malte e mesmo processo. So nao botei fruta. Fiz isso maaaais uma segnda vez, usando uma isca dessa segunda breja acida e produzindo uma terceira, com uma fruta de pouco sabor e aroma (siriguela, comum aqui no Cerrado).

A primeira breja ficou otima. A segunda e a terceira deu um off e sabor de iogurte acentuado. Talvez o maracuja da primeira acabou cobrindo aroma e sabor de iogurte. Ou entao ele nao foi gerado.

Alguem ja teve isso? Sabem me dizer o que pode ter gerado esse aroma e sabor de iogurte forte?

Me disseram que iogurte é esperado ao se usar lacto. Mas ja tomei varias sours, inclusive de amigos que sei que usaram os mesmos comprimidos, e nao deu isso.

E ae?
 
Comprei nos EUA um composto de lactos. Usei 5 comprimidos pra 20 litros. Grist de malte: metade pilsen e metade trigo. Apos mash out, fervi por 15 minutos pra matar tudo, resfriei pra cerca de 35 graus e joguei no balde com os pozinhos dos comprimidos (de lacto).

Apos 2 dias ph baixou pra 3.5. Voltei pra fervura, botei lupulo, resfriei pra 20 e poucos graus e botei fermento saison. Fermentou e tals. Adicionei maracuja e ficou uma otima berliner.

Antes de ferver e matar os lactos, tirei uma "isca". Uns 400ml de mosto acificado (sem ferver), deixei n geldeira e usei posteriormente em outra berliner, com mesmo grist de malte e mesmo processo. So nao botei fruta. Fiz isso maaaais uma segnda vez, usando uma isca dessa segunda breja acida e produzindo uma terceira, com uma fruta de pouco sabor e aroma (siriguela, comum aqui no Cerrado).

A primeira breja ficou otima. A segunda e a terceira deu um off e sabor de iogurte acentuado. Talvez o maracuja da primeira acabou cobrindo aroma e sabor de iogurte. Ou entao ele nao foi gerado.

Alguem ja teve isso? Sabem me dizer o que pode ter gerado esse aroma e sabor de iogurte forte?

Me disseram que iogurte é esperado ao se usar lacto. Mas ja tomei varias sours, inclusive de amigos que sei que usaram os mesmos comprimidos, e nao deu isso.

E ae?

Amigo, respondendo suas duas perguntas (tentando pelo menos).

1) Sim, existe diferença entre uma cultura comercial e as bactérias que estão nos grãos, principalmente pelo fato de nos grãos haver muito mais coisa do que lactos, as vezes mais de uma cepa entre outras bactérias, fungos, etc. Existe também diferença de acidez entre cepas "puras" (comerciais) de lacto. Dá uma lida no Milk the Funk sobre todas as culturas de lacto disponíveis hoje.

2) Dá uma olhada na cultura que você utilizou e utiliza a tabela do site que te indiquei acima para entender se esse off é esperado ou não. Devido ao PH da sua "isca" estar em 3.5 eu acho difícil que outros contaminantes tenham interferido no processo, mas nunca se sabe. Também já li que essas culturas em comprimidos (geralmente para uso médico) não são tão boas quanto as específicas para cervejeiros, porém conheço um cara que fez uma Berliner azedando o mosto com iogurte natural não pasteurizado e não ficou nenhum off. Bactéria é complicado! Por isso que são legais de trabalhar, são várias variáveis.
 
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