Estou envasando com Contra Pressão pela primeira vez e está acontecendo o seguinte:
Ajustei o cilindro de CO2 com 0,5 de pressão conforme indicado pelo vendedor e fiz os demais procedimentos na ordem indicada (alívio, abertura da entrada do líquido, etc), mas a cerveja está espumando bastante e perdendo CO2. Testei algumas garrafas e fica totalmente sem gás.
Reduzi ainda mais a pressão no cilindro (para uns 0,2) e não resolveu.
É como se eu tivesse jogando o líquido na garrafa através de um torneira PicNic, por exemplo. Ou seja, o gás se desprende no envase.
O que fazer?
Obs.:
- A cerveja está carbonatada em torno de 1k de pressão;
- Consigo servir a cerveja no copo normalmente (não está super carbonatada);
- Estou utilizando o postmix com a cerveja bem gelada (0 grau);
- Utilizo 2 metros de tubo para transferência do líquido.
Obrigado!
Infelizmente, a desinformação de vendedores é quase uma coisa epidêmica.
Vamos pensar bem calmamente pra tudo fazer sentido.
O que diz a Lei de Henry: "A solubilidade de um gás em um líquido é diretamente proporcional a pressão parcial deste gás sobre o líquido".
Em resumo, quando a pressão de um gás sobre um líquido, mais moléculas deste gás se ligam no líquido e de dissolvem nele.
Em resumo, quando carbonatamos uma cerveja, colocamos ela em um barril, colocamos uma certa CO2 no headspace, e ao longo de horas, as moléculas de CO2 que estão "voando" no headspace vão eventualmetne se chocando com as moléculas de água da cerveja, e a pressão faz com que essas moléculas de CO2 se liguem nessas moléculas de água, e "afundem" com elas. Isso vai acontecendo mais e mais, mas quanto mais moléculas de CO2 migram do headspace para o líquido, menos pressão fica no headspace, afinal, menos moléculas restam lá.
Chega uma hoje que acontece uma das principais coisas que todos devem entender sobre carbonatação: pressão de equilíbrio ou pressão estabilizada. Ou seja, chega um momento onde a pressão do headspace não é suficiente para "impregnar" mais moléculas de CO2 no líquido. No entanto, o CO2 no líquido, que está sempre lutando pra se soltar dessas moléculas de água, virar uma bolha, e sair voando.... também não consegue se soltar porque há muita pressão sobre o líquido, logo:
equilíbrio.
Espuma: quando ocorre? O que é?
Espuma só acontece se não há pressão suficiente sobre o líquido para manter o CO2 preso nele. Se a pressão sobre o líquido diminuir um pouco, e houver muito choque entre moléculas, o CO2 consegue se desprender, vira uma bolha, chega na superfície, se liga a partículas hidrofóbicas que não deixam a bolha estourar, e pronto....... temos espuma.
Então, se espuma só se forma se a pressão acima do líquido for MAIS BAIXA do que a pressão original em que a cerveja estava carbonatada, o que devemos fazer se queremos transferir ela de um lugar pro outro sem fazê-la espumar? Bom......... temos que manter a cerveja o tempo inteiro sob pressão no mínimo igual, e preferencialmente até um pouco superior à que ela foi carbonatada.
Daí surgiu o envase por "contra-pressão", uma forma se pré-pressurizarmos o recipiente que vai receber a cerveja, a linha toda, tudo, antes de começar a movimentar o líquido, assim a cerveja saí de um "vaso" para o outro "vaso" e nunca é exposta a uma pressão menor do que a original, logo.......... o CO2 preso no líquido nunca consegue se soltar, e não vira bolha.
--------
Em resumo, em qualquer sistema de contra-pressão, seja pra encher garrafa, barril, tanto faz.... é preciso avaliar quantos volumes de CO2 a cerveja está carbonatada, levar em consideração qual a temperatura máxima que o líquido será exposto durante o envase, e usar uma pressão adequada pra isso.
Exemplo: uma cerveja está carbonatada em barril a 5 graus de temperatura, e 1 bar de pressão, o que dá mais ou menos 2.6 volumes. Ao envasar por contra-pressão, sendo que estou num lugar a 25 graus de temperatura e com mangueiras longas, eu sei que entre encher uma garrafa e outra a cerveja vai ficar parada na mangueira e........ chutando..... acho que na pior das hipóteses a cerveja que está dentro da mangueira pode chegar a 20 graus durante o envase na pior de todas as hipóteses.
Bom, 2.6 volumes de carbonatação, a 20 graus...... requerem 2 Bar de pressão para que a cerveja se mantenha carbonatada (e o CO2 não se solte), logo............... durante o meu envase eu vou usar em torno de 2 Bar de pressão na linha, e quando digo na linha, quero dizer um Y na saída do cilindro que pressurize tanto o barril quanto a garrafa nessa pressão, assim tenho certeza que vai ser tudo perfeito.
"Mas Guenther, se usar 2 Bar durante o envase, a cerveja não vai supercarbonatar?" - Absolutamente não, absorção de CO2 é uma coisa muito lenta, e o tempo de envase não é suficiente pra isso.
Resumidamente, é isso.
Abraço,